domingo, novembro 22, 2009

Sorrisos da Alma

Houve um tempo em que a alma respirava confiança pelas bandas de Vidal Pinheiro.

Atente-se, por exemplo, no sorriso traquinas de Milovac. Poderoso ex-jugoslavo com umas orelhas dúmbicas a pedir meças ao provecto Angulo, Milovac escarnecia com impudicícia a ousadia dos avançados que se atravessavam no seu caminho. O sorriso travesso de Milovac dizia com todos os seus dentes “com que então pensas que vais entrar na grande área e fuzilar a nossa baliza, hã?” e acrescentava, junto ao canto do lábio, “pois é, já vais ver como elas doem, meu caro”. E ainda o avançado estava paralisado com esse verdadeiro canto de sereia que era o sorriso de Milovac, fascinado pelo seu ar de aparente ternura infantil, ao jeito de quem sorve granizados atrás de granizados nas traseiras do pavilhão da escola, e já Milovac lhe aplicava uma tesourada impiedosa capaz de fazer gastar todo o stock de sprays analgésicos do seu clube de uma só vez. Milovac era um autêntico lobo vestido de cordeiro. Djoincevic era mais um lobo vestido de lobisomem – mas isso já são outras contas.

Nikolic, por seu turno, distribuía sorrisos que tendiam para a gargalhada, tamanha era a sua confiança. Sorrisos que despertaram furor no mundo publicitário, pelos sentimentos positivos que traduziam, e que mereceram o seguinte comentário de um famoso publicitário brasileiro: “Nossa, esse cara aí vai londji, pô”. E foi – desde a sua meia-lua até à pequena área contrária. Ele era o grande artista de Paranhos, o mágico que transformava uma bola perdida na lama de Vidal Pinheiro num planeta pleno de viço rolando sobre uma carpete persa. A equipa era uma espécie de Tocá Rufar e ele era um violinista que não tocava Chopin. Já Lalic era uma imitação comprada no bazar chinês de Zagreb – e ao fim de um par de jogos acabaram-se-lhe logo as pilhas e foi rapidamente remetido para uma arrecadação, até que, um dia mais tarde, Edu Brasil redescobriu o seu jeito barato. Edu Brasil era um jogador que não enganava quanto às suas origens – mal alguém olhava para ele, dizia logo: “este gajo Edu Brasil! Quer Lalic quer Edu Brasil nunca conseguiram atingir o mesmo patamar de fotogenia do sorriso ímpar de Nikolic – consta que nem sequer possuíam uma dentição própria.

Seria tudo um mar de rosas se todos fossem assim, mas não há rosas sem espinhos. E eram os espinhos que incomodavam José Luís, sobretudo quando instados nas partes mais baixas do seu corpo. José Luís fazia beicinho amiúde. Franzia os olhos, achava que havia marosca por trás de tudo. Queixava-se que não lhe passavam a bola, que não tinha direito a colete nos treinos, que o vermelho do Salgueiros realçava a sua palidez, que o Madureira tinha um bafo insuportável, que isto, que aquilo, e então amuou. Foi contrafeito que posou para o cromo. Acentuavam-se as divisões no grupo. Crescia a tensão entre os bem-dispostos e os mal-dispostos.

A alma acabaria por ser entregue às mãos do diabo Linhares. E o Salgueiros, como nós o conhecíamos, sublimou-se pelos ares do progresso, tornando-se num clube sem face. Rui França que o diga. Esse mítico centrocampista com nome de país que emprestou um novo sentido à palavra “sarrafada” e nunca mais o devolveu. Rui França e o Salgueiros resvalaram para o anonimato, eclipsaram-se pela força dos carris metropolitanos. Perdeu-se a glória, ganharam-se acessibilidades. O sorriso passou do adepto para o utente suburbano.

domingo, novembro 15, 2009

A Malta de Alverca 1997 - Parte 2


Após um primeiro olhar sobre a grande equipa do Alverca 1997 aqui vamo-nos debruçar sobre mais uns 3 mosqueteiros da Dream Team de Luis Filipe Vieira ha 12 anos.

Sousa - Defesa direito de eleição, o novo João Pinto, ágil, rápido, mais um promissor da cantera benfiquista.. que .. não teve sucesso. Joga hoje no Arouca e é treinado pelo Carlos Secretário, nao sei se estão a ver quem é. Um defesa direito que só passou pelo Real Madrid. Não está ao alcance de qualquer um.. principalmente quando se trata de um erro de casting.
Sousa foi mais um dos jogadores que passaram pelo FCPorto para assinar um contrato, porque minutos nem vê-los.. Mas para compensar passou pelo Olympiacos Nicosia, Beira Mar, Farense, e Belenenses. Para um licenciado em Economia nao está nada mau.

Maniche - Palavras para quê? É mais um artista deste ano no Alverca. Esta foto diz tudo.. Maniche pensava "quando for grande quero ser ainda mais feio, com piores dentes, um cabelo ainda pior, e quero sempre vestir uma camisola azul ou vermelha" E de facto cumpriu. Missão Cumprida Maniche!! Ainda assim, foi decisivo para a grande época do Alverca na II Divisão de Honra, com 29 jogos e 5 golos.

Casquinha - Quem? Como? Desculpem? Ah, um jogador que nunca saiu do Ribatejo? claro que conheço!! Sertanense, Alverca, Vilafranquense, Carregado, Malveira... pois, faz sentido esta carreira. Uma vez ribatejense, para sempre ribatejense. Com este nome.. nao podia ir longe. Se ao menos se chamasse Casca, ou Gema, ou Clara.. Agora Casquinha nao ia lá. Claro que nesta época do Alverca jogou 90 minutos apenas.

quinta-feira, novembro 12, 2009

Uma jóia no coração de Portugal

EXCURSÃO A CAMPOMAIOR.

1º Dia:
Saída em autocarro de turismo com seguro incluído. Chegada a um aconchegante hotel em regime de Octaviano. De seguida a um delicioso almoço vamos visitar CAMPOMAIOR, a terra do café português, e lugar onde são produzidos os mais franzinos e subnutridos Arriagas do País.
Ali iremos a uma FÁBRICA DE MORCELAS, onde além de conhecer o processo de fabricação dessas deliciosas receitas da obesidade mórbida na classe dirigente, iremos dar-lhe a oportunidade de socar um enchido com uma luva de Vítor Baía calçada na mão direita. Exclusivamente para si.
Regresso ao hotel, onde irá ser servido o jantar. De seguida vamos participar num ANIMADÍSSIMO KARAOKE onde todos serão convidados a cantar as animadas cançonetas do popular conjunto "Stanimir Stoilov e a Filarmónica dos Cristãos Ortodoxos de Turgovishte".




















2º Dia:
Pequeno-almoço.
Apresentação publicitária a cargo de JORGE SILVÉRIO, com artigos de alta qualidade, faces ruborizadas de aldeões ébrios, e óptimos preços. Uma potente cerquelha poderá também jaimar sucinta aparição, para deleite do público presente.
O almoço será MIGAS COM GILA, delicioso prato da gastronomia alentejana! Aconselhamos porém a que deixem a Gila na beira do prato, sob pena da sua polivalência se perder num molho de mediania.
Logo após faremos novo passeio panorâmico de autocarro pela MONUMENTAL CIDADE DE CAMPOMAIOR, onde avistaremos a FORTALEZA D. PAULO BANHA TORRES, de onde canhotos canhões eram disparados à cabeça de secretários formando barreira, cumprindo assim uma centenária tradição lusitana.
Além disso, teremos TEMPO LIVRE para comprar as FAMOSAS CHIPMIX, tradicional iguaria campomaiorense. Os nossos estimados clientes terão a oportunidade única de tirar uma pepita de chocolate directamente da testa de Nuno Afonso.



















Regresso a casa na certeza de termos passado dias muito felizes com EXCURSÕES NABEIRO, a sua MELHOR COMPANHIA.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Comunicado

A Cromos da Bola, SAD emite o seguinte comunicado:

“Desapareceu dos relvados do futebol o bigode lusitano. Em tempos foi rei e senhor do quadrângulo verde e pode ser facilmente reconhecido pelos mais velhos e pelos saudosistas no geral, os mesmos que hoje em dia ouvem a M80 e que acham que a Samantha Fox é a 8ª maravilha do mundo (embora tenha 1,55m e seja lésbica). A fotografia que se junta exibe o bigode numa das suas derradeiras aparições públicas, escarrapachado na pele de Louro, um defesa com nome de papagaio e que por acaso até era um morenaço bem viril, apesar de muitas vezes mancharem esta imagem com parvoíces do género “dá o pé, Louro, dá?”. A última vez que o bigode foi visto estava na companhia de um sombrio treinador-adjunto ou de um roupeiro alcoólico e demonstrava um trato comportamental bastante furtivo, longe da exuberância patenteada no seu zénite sócio-cultural. Deve possuir, nesta altura, bem mais de quarenta anos. Ostentava já algumas pontas brancas e deixava transparecer algumas debilidades emocionais nas semanas precedentes ao seu desaparecimento. Os vizinhos dão mesmo conta de alguma depressão. Há quem diga que se encharcava de Prozacs e de produtos etílicos de fermentação duvidosa por não aguentar a pressão da moda. Não está colocada de parte a hipótese do seu suicídio. A família desesperada refere que ele desenvolveu um ódio de morte em relação à metrossexualidade e que tentou combater, sem êxito, a força das suas loções e esfoliantes. As últimas investigações detectaram eventuais restos de bigode no chão de alguns salões de beleza e de pequenas barbearias geridas por velhotes de bata, misturados entre cadáveres de permanentes e carcaças de mullets, pelo que se aconselha vigiar de perto esses locais. É considerado inofensivo, mas pode picar. Repito, pode picar. Há quem diga que o viu carpindo mágoas junto a uma pista de carrinhos de choque ou a namorar um copo de vinho junto das quermesses de festas populares do interior ou mesmo junto aos restantes fenómenos Entroncamento no Verão passado, mas sem confirmação oficial.
Qualquer informação sobre o seu paradeiro deve ser comunicada às autoridades responsáveis ou ao Rocha do Duarte & Companhia, que é o guia espiritual de todos os que professam a religião bigodista portuguesa (e que tinha uma bazuca que era uma senhora arma de destruição maciça).
Agradece-se o esforço mas não serão dadas recompensas.
Vão mas é trabalhar.

A Direcção”

quinta-feira, novembro 05, 2009

A Pantera Negra (A Outra)

Eusébio. Um nome, uma lenda. Pensamos em Eusébio e imediatamente associamos esse vulto a “tremoços”. E também a Portugal, vá lá. E vagamente à Amália e ao carismático par de lontras do Oceanário. É uma fama que perpassa gerações, nacionalidades e credos. Chegou a altura da homenagem da nossa SAD.
Aqui está Eusébio representado na flor da sua idade, pujante como nunca. Um equipamento imaculadamente negro, como negra era a vida de quem lhe tentava fazer um túnel. Uma frondosa extensão capilar, com duas pontas soltas a tombarem-lhe sobre a fronte, emprestando um elevado quilate estético a esta força da Natureza tornada jogador. O olho esquerdo um pouco mais cerrado, uma expressão de desafio, um aviso aos magos da bola que teimam em acarinhar o cautchu na intermediária: Eusébio não era apenas um mero carregador de piano; ele carregava-o, mandava-o ao chão e desfazia-lo em cacos apenas com o uso da sua mastodôntica força ortopédica. Duas sobrancelhas robustas, daquelas que definem a fronteira entre um Andrade e um Rui França. Um tufo de pêlos peitorais encarcerado pela justeza do equipamento e que teima em respirar à tona como se fosse um periscópio da masculinidade lusitana. E depois aquele subtil sorriso matreiro, qual Gioconda dos relvados enlameados com as bancadas bem próximas dos relvados e com velhas guinchadoras a arremessar pevides à careca do desamparado bandeirinha que não Bandeirinha, em jeito do anti-herói que despreza o perigo e que teima em partir as pernas dos outros quando não as consegue vergar.
Eusébio marcou mais que uma era; marcou muitas canelas por este Portugal dos brandos costumes.
Está feita a tua homenagem, Eusébio. Agora só pedimos, por favor, que não nos batas.


Este pode não ser o Eusébio que todos conhecem. Mas não deixa de ser uma lenda para nós.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Bracara Assusta

Na ressaca do Halloween, dispensamos maquilhagem. Isso é coisa para meninas, bandas dos anos 80 e para o Kenny Cooper. Aqui no Cromos da Bola, SAD, gostamos dos nossos sustos sem corantes, conservantes e aditivos vários. Assim sendo, fomos à pesca.
Como do Oceano não apreciamos Peixe, Lula, Crodonilson ou Estrela-que-não-Pedro-do-Mar, fomos esgravatar no bas-fond da Bracara Augusta, na expectativa que nos saísse um mexilhão de qualidade.
E há melhor mexilhão do que Borçato?
Já dizia a minha mãe, "quem não tem Cao, caça com Borçato". E o vosso escriba, obediente petiz de antanho, assim fez. E que bom susto nos oferece o aguerrido brasileiro! Até parece que estou a ver o plantel do Beira Mar tolhido de medo perante este corcunda de Notre Dame, que não era corcunda, nem de Notre Dame. Nem o Vítor Duarte escapou ao sobressalto, logo ele que era uma espécie de Dinis albino, que não Bino percursor da mosquinha.

Mas nem só de Borçato vive o espavento, e a nossa pescaria trouxe mais bivalves de qualidade.
Vejamos o Caniggia de Alhos Vedros, Pedro Miguel de seu tímido nome, meio sorriso no rosto estampado. Não enganas ninguém, Pedro. Esse encenado esgar de simpatia não cobre a loucura adjacente ao teu olhar. Está lá, Pedro, e toda a gente vê (menos o Gaspar Ramos, porque não sabemos muito bem para onde está a olhar). Esse desatino que te vai na alma é transparente. Conseguimos cheirar o sangue de mil mutiladas vítimas no teu cabelo de pontas espigadas, podemos ver a morte na tua barba negligé de 3 dias. O teu trejeito de felicidade não é senão uma fachada, uma capa para cobrir a mórbida demência que te leva a roer os ossos daquilo que resta do simpático Johnny Rodlund. A tua máscara caiu, Pedro. Nós temos medo. E tu?

Olha no fundo do balde! É um Vado! Lá está ele todo espantado. És feio, mas não metes medo, malvado. Ficas aí ensopado, no fundo do balde pregado, desamparado. Coitado? És pequeno e limitado, mas não temos pena de ti aí no fundo do balde sulcado. Vês o caso mal parado? Não fosses Vado, fosses antes Borçato que é bem mais amado.

Eh lá, sobrou um Chico. E acho que é um Silva. É verdade, grande pescaria.
Um Borçato para o palato, um Vado para o enfado, e um Pedro Miguel para fazer pastel. E como se já não bastasse, calha-nos um Chico no final da festa. E é um Silva!

Não dá para grande abalo de terror repentino, mas é sempre bom para afugentar certas pessoas.
Como dá ares de arrumador, pode ser que o Floris Schaap não queira arrotar 50 cêntimos para deixar a Famel à porta do balneário e venha de autocarro. Quanto mais tarde o antecessor de Nordin Wooter chegar ao treino, mais hipóteses tem o Jorge Ferreira de ser titular. E todos queremos ver o Jójó no tapete verde, não é?


Post Scriptum Cromatium: como podem ver no cantinho aí à direita, o Cromos da Bola SAD é oficialmente uma prostituta da blogosfera: já estamos no Facebook. E queremos ser vossos amigos. (Bod)Unha e carne, como Dani e Domínguez.
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